29 novembro 2009

Ciclos de vida

Existem três tipos de ciclos de vida:
Ciclo de vida Haplonte – Neste ciclo a meiose ocorre imediatamente após a formação do ovo – meiose pós-zigótica. A diplofase está resumida ao ovo, pertencendo todas as outras estruturas à haplofase, incluindo o organismo adulto. Este ciclo ocorre em alguns protistas e fungos.
Ciclo de vida Diplonte – a meiose ocorre antes da formação dos gâmetas – meiose pré-gamética. As gâmetas são as únicas células haplóides, sendo todas as outras estruturas pertencentes à diplofase, incluindo o organismo adulto. Este ciclo ocorre em alguns protista, fungos e em todos os animais.
Ciclo de vida Haplodiplonte - a meiose ocorre antes da formação de esporos – meiose pré-espórica. A haplofase inicia-se com os esporos que, através de mitoses sucessivas, originam estruturas multicelulares, os gametófitos, onde se formarão os gâmetas femininos e masculinos (oosferas e anterozóides). Após a fecundação, o zigoto inicia a diplofase e origina uma entidade multicelular diplóide que, na maioria das plantas, é a planta adulta. Essa planta adulta, o esporófito, irá sofrer meiose originando esporos. Para além de ocorrer alternância de fases nucleares, existe também uma alternância de gerações, a geração gametófita e a geração esporófita. Este ciclo ocorre em alguns protista, fungos e em todas as plantas.
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POLIPÓDIO - Um ciclo de vida haplodiplonte

O polipódio é um feto cuja planta adulta constitui o esporófito. Este pode reproduzir-se assexuadamente por multiplicação vegetativa, através dos rizomas e também por reprodução sexuada. Na época da reprodução, podem-se observar estruturas amareladas (soros) existentes na página inferior das folhas, formados por inúmeros esporângios que, quando jovens, contêm células-mães de esporos. Essas células por meiose (meiose pré-espórica) originam esporos haplóides. Esses germinam ao cair em solo favorável originando, cada um, o protalo ou gametófito que possui vida independente da planta adulta. Nesta estrutura diferenciam-se os gametângios que originam os anterozóides flagelados e as oosferas. A fecundação, que é dependente da água uma vez que os anterozóides movimentam-se na água até penetrarem nos arquegónios, origina um ovo que inicia a geração esporófita correspondente à diplofase. O ovo desenvolve-se sobre o protalo originando a planta adulta (esporófito), a entidade mais representativa daquela geração. O polipódio é um ser que apresenta um ciclo de vida haplodiplonte pois apresenta alternância de gerações (gametófita e esporófita), tendo cada fase estruturas multicelulares. A face nuclear mais desenvolvida é a fase diplóide que corresponde à geração esporófita, pois é nela que se encontra o organismo adulto.
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Animais - Ciclo de vida diplonte

A fecundação é o fenómeno que dá início à diplofase. A partir dela forma-se o ovo ou zigoto que sofre mitoses sucessivas originando um ser vivo adulto. No ciclo diplonte, as células da linhagem sexual do ser adulto sofrem meiose (meiose pré-gamética) e originam espermatozóides e óvulos. Neste ciclo os gâmetas são as únicas células haplóides, daí a diplofase ocupar quase a totalidade da duração do ciclo. Este tipo de ciclo encontra-se em alguns protista, fungos e em todos os animais.
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ESPIROGIRA - Um ciclo de vida haplonte

A espirogira é uma alga verde pluricelular filamentosa que pode reproduzir-se de forma assexuada ou sexuada. A reprodução assexuada ocorre por fragmentação quando as condições são favoráveis. Os filamentos celulares quebram-se, originando fragmentos que, por divisões sucessivas das células, regeneram novos filamentos. Neste processo mantém-se a informação genética, não havendo alternância de fases nucleares.

A reprodução sexuada ocorre sob condições ambientais desfavoráveis. Quando dois filamentos celulares se colocam lado a lado, formam-se tubos de conjugação entre as suas células que passam então a funcionar como gametângios, e cujos conteúdos correspondem a gâmetas indiferenciados (isogamia). Ocorre fecundação entre o gâmeta dador e o gâmeta receptor. Resulta uma célula diplóide, o ovo ou zigoto iniciando-se a diplofase. Cada zigoto permanece num estado de vida latente até que as condições voltem a ser favoráveis, altura em que o zigoto sofre meiose (meiose pós-zigótica) originando quatro núcleos haplóides (zigósporos), que degeneram ficando apenas um núcleo haplóide. A partir da célula haplóide forma-se um novo filamento de espirogira por mitoses sucessivas.
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Ciclos de vida

O ciclo de vida de um ser vivo é a sequência de etapas por que passa o organismo desde a sua origem até ao momento em que transmite a vida aos seus descendentes. Num ciclo de vida de um ser que se reproduz sexuadamente há dois fenómenos complementares: a fecundação e a meiose. A fecundação, ao duplicar o número de cromossomas do ovo, inaugura uma etapa do ciclo de vida em que as estruturas dele resultantes são constituídas por células diplóides – a diplofase (2n) – que termina na meiose. A meiose dá ínicio a uma etapa do ciclo de vida em que as estruturas possuem células haplóides – a haplofase (n) – que termina na fecundação. Esta alternância entre diplofase e haplofase chama-se alternância de fases nucleares.
Há diversos ciclos de vida, no entanto todos eles possuem em comum a complementaridade da meiose e da fecundação, assim como uma alternância de fases nucleares. Os ciclos de vida distinguem-se sobretudo pelo momento do ciclo em que ocorre a meiose.
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Reprodução sexuada e assexuada - Vantagens e desvantagens

A reprodução assexuada tem como vantagens ser um processo rápido e com um pequeno gasto de energia. Visto que a divisão nuclear é um processo de mitose, assegura a formação de clones e, sendo que todos os indivíduos podem originar descendentes, um só indivíduo pode colonizar habitats de condições semelhantes, sem a intervenção de um segundo indivíduo. desvantagens: sendo que os indivíduos são clones, a diversidade dos mesmos é praticamente nula e, assim, não favorece a evolução das espécies, tendo como uma difícil adaptação dos novos indivíduos ao meio como consequência.

A reprodução sexuada tem as vantagens de proporcionar uma grande variabilidade de características na descendência, o que permite às espécies não só mais capacidade de sobrevivência, no caso de haver mudanças de ambiente, mas como também permite a evolução das espécies para novas formas. desvantagens: é um processo lento, com um enorme dispêndio de energia, tanto na formação dos gâmetas, como nos processos que desencadeiam a fecundação.

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Fecundação do óvulo

Reprodução sexuada




















A reprodução sexuada é o processo pelo qual ocorre a fusão de duas células gaméticas, com junção de seus núcleos (cariogamia ou anfimixia  ), produzindo descendências variadas. Com excepção dos vírus, todos os demais seres vivos utilizam essa via reprodutiva para a perpetuação da espécie. Por esse processo, chamado de fecundação ou fertilização, os gâmetas (células haplóides), de uma dada espécie fundem-se para originar uma célula diplóide, denominada ovo ou zigoto. Durante a fusão, os núcleos gaméticos unem-se, ocorrendo uma mistura do seu conteúdo cromossómico, antes armazenado no interior de cada um. Portanto, esse mecanismo consiste na partilha de material genético, cedido por dois organismos filogeneticamente semelhantes, entrecruzando-se através de células reprodutivas, formando um novo indivíduo. Os gâmetas são formados por meio de uma divisão meiótica, e classificados quanto à forma, tamanho e actividade. Em algumas espécies são indiferenciados, ou seja, isogâmicos, assemelhando-se independente do género. Porém, a maioria das espécies possui gâmetas heterogâmicos (anisogamia), diferenciados por aspectos morfológicos, dimensionais e mobilidade. Nos animais, por exemplo, na espécie humana, os espermatozóides (gâmeta masculino) são células pequenas e móveis, enquanto o óvulo (gâmeta feminino) é uma célula grande e sem mobilidade própria. Os organismos com reprodução sexuada podem receber as seguintes denominações de acordo com a complexidade da estrutura reprodutiva: Organismos Dióicos → aqueles que apresentam sexos separados conforme o gênero (macho e fêmea); Organismos Monóicos → aqueles que possuem os dois sexos, o masculino e o feminino e conseqüentemente produzem os dois tipos de gâmetas (hermafroditas). Alguns indivíduos monóicos reproduzem-se por fecundação cruzada, nesse caso propiciando variabilidade genética (com maior frequência nas plantas, e alguma animais, como é o caso da minhoca). Noutras (por vezes em plantas) ocorre a autofecundação como artifício reprodutivo, uma forma evolutivamente prejudicial à espécie por impedir o fluxo génico entre os indivíduos de uma dada população.
Adaptado de http://www.brasilescola.com

MEIOSE

MEIOSE

MEIOSE

A meiose é um dos principais factores de variabilidade genética, uma vez que combina a informação genética dos cromossomas homólogos existentes nas células que sofrem esse processo, permitindo assim a produção de células geneticamente diferentes entre si e com metade do número de cromossomas da célula inicial. O processo (que aqui se descreve de forma simplificada) desenrola-se em duas fases, correspondendo cada uma delas a uma divisão do núcleo. Na primeira divisão meiótica (meiose I) os cromossomas homólogos, previamente duplicados, vão-se condensando, acabando por estabelecer uma sinapse ou emparelhamento, que se prolonga desde a profase até à metafase. Em cada par assim organizado, encontra-se um cromossoma de cada progenitor. Durante esse período, os cromatídios dos cromossomas homólogos estabelecem contacto físico em determinados pontos (pontos de quiasma), correspondentes aos locais onde poderá ocorrer troca de fragmentos entre os cromossomas homólogos. Este processo, designado crossing-over, constitui o primeiro factor de variabilidade, uma vez que esses pontos de ligação são aleatórios. O segundo ocorre após a metafase, altura em que se dá início à anafase com a ascensão polar dos cromossomas homólogos, constituídos ainda por dois cromatídios, agora recombi-nados. Este processo, designado separação ou segregação dos homólogos, constitui outro importante factor de variabilidade, uma vez que é imprevisível a direcção em que cada cromossoma de cada par de homólogos vai migrar. Os núcleos-filhos resultantes podem considerar-se já haplóides, uma vez que são constituídos apenas por um cromossoma de cada par de homólogos. A segunda parte da divisão da meiose (meiose II) é similar à mitose. Os cromatídios de cada cromossoma, alinhados no plano equatorial de cada célula durante a metafase II, separam-se ao nível do centrómero e migram, durante a anafase II, para pólos opostos, passando a constituir cromossomas.
Divulgarciência.com

13 novembro 2009

Terapia inovadora para melanoma

Clonagem trata cancro com êxito
Médicos norte-americanos trataram com êxito pela primeira vez um doente com melanoma, o mais maligno dos cancros da pele, com células clonadas do seu sistema imunitário, segundo um estudo hoje divulgado.Esta é a primeira terapia em que foram usados apenas linfócitos T do paciente clonados em laboratório para tratar um melanoma em fase avançada e que teve como resultado uma longa remitência - disse Cassian Yee, do Centro de Investigação do Cancro Fred Hutchinson, principal autor do estudo publicado no New England Journal of Medicine.Yee e a sua equipa recolheram linfocitos T do tipo CD4+ (células chave do sistema imunitário) de um homem de 52 anos que sofria de um melanoma avançado já propagado a um dos gânglios linfáticos da virilha e a um dos pulmões.Esses linfócitos T dirigidos especificamente ao melanoma foram clonados em grande número num laboratório antes de serem injectados no corpo do paciente, sem qualquer outro tratamento complementar.Dois meses depois, exames feitos com scanner e tomografia por emissão de positrões (TEP), que permitem obter imagens tridimensionais de um órgão, não revelaram qualquer tumor, explicou Yee.
O doente, a quem antes do tratamento fora prognosticado menos de um ano de vida, não tem sintomas nem sinais do cancro há dois anos, precisou."É o primeiro caso revelador da inocuidade e eficácia de uma terapia que usa apenas células clonadas do sistema imunitário do doente", embora se trate do único caso de sucesso num pequeno estudo que envolveu apenas nove pacientes, referiu."Tivemos um êxito com este doente, mas ainda é preciso confirmar a eficácia da imunoterapia em estudos mais alargados", sublinhou.Anualmente são diagnosticados nos Estados Unidos 62.000 novos casos e há cerca 8.000 casos de morte por melanoma. Em Portugal, todos os anos aparecem aproximadamente 10 mil novos casos de tumores da pele. Cerca de mil são de melanoma, com uma mortalidade de 10 a 20 por cento após cinco a dez anos.
Expresso - Junho 2008

Fábricas de órgãos - Clones humanos

Fábricas de órgãos
E se, um dia, o corpo humano pudesse ser tratado como uma máquina? Se as peças de origem, depois de gastas ou danificadas, pudessem ser substituídas por outras semelhantes, fabricadas "à medida"? A promessa deixou há muito de pertencer ao domínio da utopia. Num futuro não muito distante, tecidos e órgãos desenvolvidos em laboratório, muitas vezes usando células do próprio paciente, serão usados para tratar desde lesões traumáticas a doenças hoje incuráveis, como Parkinson, Alzheimer ou diabetes.
Existem já experiências de sucesso na regeneração de ossos, cartilagens e pele, no tratamento de pacientes com problemas na córnea e até no transplante de bexigas e, mais recentemente, de uma traqueia, produzidas a partir de células estaminais. O Frankenstein do futuro não será um monstro, mas sim um homem com a capacidade de regeneração de uma salamandra.
Apesar de controversa, a clonagem de humanos pode ser uma possibilidade tecnicamente viável dentro de alguns anos

Clones humanos
Apesar de controversa, a clonagem de humanos pode ser uma possibilidade tecnicamente viável dentro de alguns anos, admitem muitos cientistas. Os avanços que se estão a produzir na clonagem terapêutica - que, espera-se, irão permitir a substituição de tecidos danificados, órgãos em falência e até membros perdidos com recurso a células estaminais obtidas a partir do ADN de um paciente - poderão, em teoria, ser usados para clonar uma pessoa.
Ainda que a comunidade científica desconfie do feito anunciado por Severino Antinori, um especialista italiano em fertilidade que admitiu recentemente ter criado três clones, hoje com nove anos, muitos admitem que esta realidade será inevitável, independentemente das muitas questões éticas que levanta. O procedimento é considerado ilegal em alguns países, mas não foi ainda alcançado um consenso global para a sua proibição, como era intenção dos EUA. Expresso - Junho 2009

12 novembro 2009

Nasce mamífero sem pai e com duas mães

Tecnologia tão polêmica e revolucionária quanto clonagem elimina sexo masculino e muda regras da reproduçãoUm dogma da ciência foi quebrado ontem com o anúncio do nascimento do primeiro mamífero que tem duas mães e nenhum pai. Trata-se de uma fêmea de camundongo chamada Kaguya, produzida por partenogênese. Até agora o desenvolvimento de mamíferos por partenogênese era considerado impossível. Porém, segundo um estudo publicado na revista britânica 'Nature', Kaguya foi gerada sem a participação de qualquer espermatozóide ou célula masculina. Somente células sexuais femininas (óvulos) foram utilizadas. O nascimento de um mamífero vivo por partenogênese foi considerado o fato mais revolucionário na biologia reprodutiva desde a clonagem da ovelha Dolly, o primeiro mamífero clonado do mundo, anunciada em 1997. Dolly quebrou o dogma segundo o qual uma célula adulta jamais poderia ser reprogramada para gerar um novo indivíduo. Kaguya desafiou outro dogma: o de que dois mamíferos do mesmo sexo nunca poderiam combinar seus genomas para originar filhos. Nascimento por imaculada concepção, embriões humanos clonados foram produzidos por partenogênese antes, pela empresa americana Advanced Cell Technology, em 2001, e depois em experiências em outras partes do mundo.Todavia, esses embriões eram defeituosos e morreram no estágio de poucas células. Jamais poderiam se desenvolver e formar uma pessoa.Realizada por cientistas japoneses, a experiência tem desdobramentos biológicos e éticos. Ela aumentou consideravelmente o conhecimento sobre os mecanismos genéticos da concepção. Mas também evidenciou que o ser humano chegou a um nível inédito na capacidade de mudar a geração de seres vivos. Como a clonagem, a partenogênese permite a reprodução sem sexo e rompe as leis da evolução.A partenogênese possibilita o nascimento por 'imaculada concepção'. O estudo abriu a polêmica possibilidade de que casais de lésbicas possam ter filhas geneticamente aparentadas de ambas - sempre filhas, já que sem o cromossomo sexual masculino Y é impossível gerar meninos.A produção de um mamífero por partenogênese mostrou que o sexo masculino não é mais obrigatoriamente necessário para a geração de um mamífero. O estudo terá impacto sobre a embriologia, a reprodução assistida e a clonagem. Por enquanto, destacaram cientistas, a possibilidade de gerar pessoas por partenogênese é extremamente remota. A biologia reprodutiva de camundongos e seres humanos é muito diferente e o método pode nunca funcionar em pessoas. Além dos evidentes problemas éticos, tal experiência iria requerer um número elevado de óvulos. Kaguya foi criada por cientistas da Universidade de Agricultura de Tóquio a partir da combinação do material genético de dois óvulos. Acreditava-se que a partenogênese pode ocorrer em vários tipos de animais, mas nunca em mamíferos devido a um fenômeno chamado marcação genética (imprinting, em inglês). Na formação de espermatozóides e óvulos certos genes fundamentais ao desenvolvimento do embrião são desligados por uma série de marcações químicas. Há marcações que só ocorrem em óvulos e outras restritas a espermatozóides. Apenas quando um óvulo e um espermatozóide se combinam é que todos os genes essenciais se tornam disponíveis e permitem o desenvolvimento do embrião. Para produzir Kaguya, Tomohiro Kono e sua equipe desenvolveram uma espécie de truque biológico. Eles burlaram as regras do imprinting manipulando o núcleo do óvulo de uma das fêmeas para masculinizá-lo. Isso só foi possível com a criação de camundongas transgênicas cujos óvulos têm ativado o gene IGF-2, normalmente ativo somente nos espermatozóides e essencial para o desenvolvimento do embrião. O núcleo do óvulo de uma camundonga transgênica foi então transferido para outro óvulo, normal. O óvulo com dois núcleos foi cultivado em laboratório e começou a crescer e se dividir, como se fosse um embrião normal. A técnica ainda é altamente ineficiente. De 457 óvulos reconstruídos apenas Kaguya e uma irmã nasceram vivas. E somente Kaguya chegou à idade adulta.
O Globo - Abril 2004

Ian Wilmut ao Ciência Hoje: «Os problemas psicológicos de indivíduos clonados seriam intoleráveis»

Quem foi realmente responsavel pelo trabalho da Dolly? Esta foi a questão-tabú da entrevista que Ian Wilmut concedeu ontem em Edinburgo ao Ciência Hoje. Está a ser alvo de um processo judicial, razão pela qual Ian não se pode pronunciar enquanto o processo não estiver terminado. Mas manifestou-se contra a clonagem de seres humanos. Diz que os problemas psicológicos para os clonados seriam intoleráveis.
Ciência Hoje - Dez anos! Já passou muito tempo! O que recorda mais desse dia 5 de Julho de 1996?
Ian Wilmut - Muitas coisas aconteceram. Na verdade, não presenciei o nascimento da Dolly. Por precaução, para que a ovelha mãe não sofresse qualquer tipo de stress, decidi que apenas o pessoal directamente envolvido no parto deveria estar presente. Por motivos semelhantes também não assisti aos partos anteriores ao nascimento, com sucesso, da Dolly.
CH - Que importância atribui à primeira clonagem de um animal? Acreditou sempre que ia ser bem sucedido?
I.W. - Quando os investigadores se lançaram neste projecto, o objectivo era desenvolver um método eficiente para efectuar alterações genéticas em animais que pudessem ser utilizadas em biomedicina – para a produção, em larga escala, de fármacos, por exemplo. Não estavam cem por cento confiantes do sucesso deste empreendimento, assim como também não estavam totalmente confiantes de que o nascimento da ovelha que viria a ser a Dolly seria bem sucedido – a ovelha mãe foi, evidentemente, seguida de perto, e várias ecografias foram feitas durante o período de gestação, mas a confiança nunca foi total.
A Dolly abriu caminho ao objectivo inicial – o de criar animais transgénicos. De facto, este objectivo é hoje uma realidade: existem hoje vacas que produzem anticorpos humanos e porcos cujos corações foram geneticamente manipulados de modo que não são rejeitados quando transplantados para babuínos.
CH - Houve críticas de envelhecimento precoce: que «idade» tinha realmente a Dolly quando nasceu, isto é, que papel tem a informação genética herdada nestes casos? A situação é igual à de um animal nascido normalmente?
I.W. - A Dolly morreu de cancro do pulmão, provocado por uma infecção viral. A única outra anormalidade detectada após a sua morte foi sofrer de artrite. A questão do envelhecimento precoce não ficou resolvida por completo. De facto, a Dolly possuia telómeros encurtados (os telómeros são porções de ADN, nas extremidades dos cromossomas, que se vão encurtando à medida que um organismo envelhece – cada vez que uma célula se divide, os telómeros encurtam, nota da redacção) mas não viveu o tempo suficiente para o grupo poder estudar os efeitos desta observação. Seria necessário produzir-se um número razoável de clones, que vivessem algum tempo, para se poder saber ao certo qual o efeito dos telómeros encurtados.
CH - Que limites julga serem aceitáveis para a clonagem? A sociedade tem o direito e/ ou o dever de impor limites à investigação científica? E a clonagem deve restringir-se a fins terapêuticos?
I.W. - No que respeita à clonagem humana, deve ser proibida. Para além dos obstáculos físico e biológicos à sua realização, os problemas psicológicos que adviriam da existência de indivíduos clonados seriam intoleráveis.
Sim, a sociedade deve-se envolver neste tipo de decisões. Sou de opinião que o sistema britânico, de criação de comissões ad hoc, constituídas por especialistas de várias áreas e cidadãos, é um bom sistema. Veja-se o trabalho da Comissão Warnock, sobre as implicações éticas, sociais e legais dos desenvolvimentos em reprodução medicamente assistida, nos anos 80.
Parece-me um erro impor limites à investigação/pesquisa, pelos efeitos que pode ter sobre a aquisição de novos conhecimentos. A fase mais apropriada para estabelecer limites será a que se segue à investigação, ou seja, a aplicação desses conhecimentos. Ora, tais limites já existem, nos países chamados desenvolvidos.
Preocupa-me mais que as pessoas repudiem (ou se afastem) do conhecimento do que este seja incorrectamente utilizado. Os limites devem ser colocados na forma como o conhecimento é utilizado, e não na sua produção.
CiênciaHoje - Nov 2009

Dragão de Komodo - Ovos partenogenéticos

De Flora, a virgem mãe de 2006, ao poder sobre o conhecimento

Na semana passada os media de todo o mundo deliraram com uma história muito apelativa do ponto de vista da época natalícia. Chama-se Flora, é um dragão de Komodo fêmea e pôs ovos viáveis sem nunca ter sido fecundada por um macho. Em palavras mais tablóides? Milagre! Flora, a virgem imaculada, ia ser mãe por alturas do Natal! Este título, nas diversas variantes, foi usado até à náusea, é ver a lista do Google News. Uma delícia.
Passado o tempo da falta de assunto e dos trocadilhos, é claro que este caso interessou os cientistas (reparem que não escrevi "apaixonou a comunidade científica"). O fenómeno da partenogénese é conhecido e já se sabia que, entre outras espécies, várias tipos lagartos são dele capazes. Mas a observação privilegiada de um caso bem documentado num dragão de Komodo é uma estreia; veio confirmar e desfazer teses e no seu campo constitui um avanço significativo do conhecimento.
Ora, chegámos à parte que me interessa. Na pesquisa para um post no meu blogue pessoal (que querem, também sou sensível à falta de assunto que caracteriza o Natal e Flora era irresistível) descobri em poucos minutos imensas coisas que não sabia sobre os dragões de Komodo -- isto apesar de conhecer relativamente bem o bicho das minhas madrugadas insones a ver canais de divulgação científica. O que apurei graças às pesquisas é sintomático do mundo digital e em rede em que hoje habitamos, nos informamos e formamos. Releva o poder dos motores de pesquisa (ainda recomendo o Google) e de espaços como a Wikipedia, uma espécie de enciclopédia diferente, para melhor, de todos os armazéns de conhecimento até hoje produzidos.
O artigo inglês (e provavelmente noutras línguas) da Wikipedia sobre a Parthenogenesis foi actualizado horas depois das notícias terem sido confirmadas. Podemos dá-lo como um poster example das vantagens desta enciclopédia aberta sobre outras, incluindo a edição online da Britannica. Além do benefício da acumulação dos saberes resultantes da evolução tecnológica a ritmo vertiginoso, sem paralelo na Humanidade, que nenhum outro processo de digerir a informação para a tornar conhecimento apresenta, também a actualização do conhecimento científico digamos tradicional é um valor fundamental da Wikipedia. Já o tínhamos observado este ano no domínio das astronomia com a "despromoção" de Plutão e temos agora novo caso de estudo que não pode deixar ninguém indiferente.
O artigo não apenas reflecte já a novidade (a observação detalhada do fenómeno nesta espécie de lagartos, confirmação de um saber empírico que é sempre um dos justos motivos de orgulho da comunidade científica, profissional e amadora) como nos fornece pistas para praticamente todos os aspectos relacionados com a questão -- seja a pista que conduz à Virgem Maria e às crenças associadas, seja a pista que nos leva ao estudo da partenogénese em particular e da reprodução em geral, sexuada e assexuada. Comparem-se as entradas sobre a espécie dragão de Komodo da Wikipedia e da Britannica (Komodo dragon). A comparação é eloquente.
Expresso Dez 2006

REPRODUÇÃO ASSEXUADA


Reprodução assexuada


Reprodução assexuada




A reprodução é uma característica fundamental dos seres vivos, pois permite a formação de novos indivíduos, assegura a perpetuação das espécies e, consequentemente, a continuidade da vida no nosso planeta.
É através da reprodução que o material genético é transmitido de geração em geração, umas vezes mantendo as características, outras produzindo algumas alterações.
Para ultrapassar as incertezas do meio e assegurar a produção de novas gerações, a Natureza adoptou estratégias de reprodução, que globalmente se podem agrupar em dois processos básicos: reprodução assexuada e reprodução sexuada..

Enquanto que a reprodução sexuada é assegurada pela existência de dois progenitores de sexos diferentes e de gâmetas; a reprodução assexuada permite a formação de novos indivíduos a partir de um só progenitor e sem que haja a intervenção de células sexuais. Neste tipo de reprodução, os descendentes desenvolvem-se a partir de uma célula ou de um conjunto de células do progenitor, pelo que todos os indivíduos são geneticamente iguais. Assim, a partir de um só indivíduo podem formar-se numerosos indivíduos geneticamente idênticos, tendo a designação de clone. A produção destes indivíduos designa-se por clonagem. Todos os membros de um clone são geneticamente iguais e provêm de um só progenitor. Só excepcionalmente podem surgir diferenças, quando por acaso ocorre uma alteração genética (mutação). Pelo facto dos seres resultantes serem geneticamente idênticos, este tipo de reprodução não contribui para a variabilidade genética das populações, porém assegura o seu rápido crescimento e a colonização de ambientes favoráveis.
A mitose é o processo de divisão celular que está por trás da reprodução assexuada. Este processo celular permite a formação de duas células-filhas, com a informação genética exactamente igual à da célula-mãe.
Existem vários processos de reprodução assexuada. Os mais comuns são: bipartição, divisão múltipla, fragmentação, gemulação, partenogénese, multiplicação vegetativa e esporulação.
www.notapositiva